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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Epitáfio


Che, ídolo de minha revolução

Este é sem duvidas o mais doloroso post que faço neste blog. Ao iniciar esta carta que gravo de próprio punho antes de transcrevê-la digitalmente, sinto-me como se eu escrevesse o meu epitáfio. Uma carta suicida. É dramático, mas sinto que os tentáculos da tirania me sondam.

Esta última noite não dormi. Movimentos estranhos rondaram por toda a noite a minha residência. Ouvi insultos, bateram em minha porta e lamentavelmente as ameaças vieram por toda a noite. Senti mesmo que minha porta fosse ser arrombada e minha casa invadida. Vi por instantes, o fim se aproximar. Não fiz orações. Não busquei socorro. Dignidade para mim é enfrentar os perigos com a mesma coragem com que enfrenta a vida sem apelar para super-poderes. Se a intenção era me aterrorizar para me deixar em pânico, lamento. Não me abale psicologicamente. Sempre me preparei para o pior.

Trilho por caminhos perigosos. A quadrilha que denuncio já contratou capangas para me calar de qualquer maneira. Eu sou uma ameaça aos planos desses carrascos de se perpetuarem no poder. É muito dinheiro em jogo e eles não querem ter prejuízos.

Escrevo agora e deixarei gravado aqui apenas para que a presente geração saiba por que lutei e em que acreditei. Não quero deixar de ter a oportunidade de uma explicação pessoal.
Certamente a próxima geração não saberá quem fui. A história oficial se encarregará de eliminar a minha memória. Matarão a pele negra que brada e desacata a elite com dedo em riste. Mas, levo o orgulho de nunca ter aceitado ser cooptado ou ter perdido meus nobres ideais revolucionários.
Desde sempre lutei pela liberdade. Rompi com a igreja para viver isso. Já fui algemado por bandido e trancafiado no cárcere só por ser um pensador autónomo. Também já fui agredido e espancado em praça pública por discordar do modus operandi do sistema. Enfrentei plateias inteiras de governistas me vaiando. Também levantei aplausos. Mas nuca os aplausos me seduziram nem as vaias  me abalaram. Abdiquei dos melhores anos de minha vida para enfrentar a ira dos poderosos e ousar sonhar um sonho. Toda a adolescência e juventude dedicada a causa da liberdade e do socialismo. Me perdi em sonhos por uma sociedade mais justa, fraterna, igualitária, livre e democrática. Vivi com paixão e com sonhos. Jamais transigi com governante corrupto. Participei de todos os movimentos sociais de minha época. Alguns movimentos eu fundei. Desprezei as honrarias e nunca ocultei meu pensamento e minhas ideias. Mesmo se fosse para me beneficiar.

Sei que quem assim age e atua não pode merecer louvores dos poderosos. Antes, fatalmente é castigado duas vezes: em vida quando tem que enfrentar a ira dos algozes. E em morte , quando é excluído da história oficial.
Em toda minha vida nunca tive conflitos pessoais interiores. Sempre superei as minhas tragédias pessoais pela luta coletiva. Embora as vezes (na maioria das vezes), fui um combatente solitário. Nunca tive complexos ou vergonha do meu corpo, de meu físico ou de minha negritude. Sempre assumi minhas posições.quando senti necessidade de uma religião, fui um cristão fervoroso. Quando me desencantei, abertamente professei o ateísmo. Hoje sou um teísta qualquer. Defendia o comunismo desde quando o Papa João Paulo II dizia que o comunismo era “satânico”, e por aqui se dizia que nós “comíamos criancinhas”. Quando me descobri bissexual aos 23 anos de idade, assumi publicamente. De forma que a mola-mestra de minha existência sempre foi “não ter medo de nada”.
Posso definir toda a minha vida em uma frase: “uma criança que por necessidade sonhou com um mundo melhor; um jovem que transgrediu todas as normas sociais em busca de liberdade; um homem adulto que choca e surpreende com suas opiniões, posturas e atitudes”.

Os insultos que ouvi esta noite doeram na alma. Me chamaram de pobre, de negro, de gay, mas no sentido depreciativo. Proferiram palavras que prefiro poupá-los. Doeu não por mim. Mas por saber que a ideologia desses agressores reflete a ideologia de quem está no poder e pagou para esses capangas virem em minha porta me agredirem e me ameaçarem.

Minha luta não terá sido em vão se outros maranguapenses se rebelarem contra esta quadrilha que está na prefeitura de Maranguape. Não precisa ser uma rebelião como a minha. Acredito também na revolução silenciosa do voto democrático segundo a consciência. “O verdadeiro revolucionário é guiado por um forte sentimento de amor” (Che Guevara).

Espero realmente ver a mudança social acontecer em Maranguape. Afinal, vivi e lutei para isso. Mas se não alcançar, valeu a pena, pois vivi essa cidade ideal na utopia dos meus sonhos.

A minha morte encomendada pelo Prefeito George Valentim não será minha derrota. Antes, será meu triunfo. Morrerei com a única vaidade que ostentei: o de nunca me render aos interesses dos ladrões, larápios e políticos profissionais de minha querida Maranguape.

Que reguem a revolução com o meu sangue.



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