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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Conversa Fiada

Este fim de semana foi muito triste para mim. No sábado dia 23 perdi minha Diva “Amy Winehouse”. A perdi para as drogas. As grandes perdas da minha vida sempre estão relacionadas as drogas. Perdi minha mãe para o cigarro. A maioria dos meus amantes se foram por causa das drogas. Crack, cocaína, álcool... Todos os amores de minha vida se desintegraram Tenho apenas duas referencias artísticas internacionais, a minha diva número 1 “Cher” e “Amy”. Lembro-me apenas de ter ficando transtornado por perda de uma celebridade apenas uma vez. Foi numa manhã de domingo dia 31 de agosto de 1997. Eu estava no Papara quando chegou a noticia da morte da Princesa Diana. Chorei por muitos dias e naquele domingo voltei para casa a rever meus recortes de revistas que eu colecionava com fotos e noticias sobre ela. Neste sábado dia 23 de julho foi-se também “Amy Winehouse”.

Na praça em frente ao meu apartamento tinha um show da banda “Cidade Negra”. Que tédio! Que só não foi maior porque o Tony Garrido é um “príncipe negro feito a pincel”. Um colírio para os olhos. Não quis ficar em casa, seria impossível fazer algo de recreativo, ler, ver TV ou simplesmente dormi. O barulho era horrível. Alias, o barulho foi tão estrondoso que chegou a quebrar algumas taças de minha cristaleira.

Então como não havia nada de normal a fazer em casa saí a praça com o objetivo de encontrar amigos. Encontrar amigos é sempre uma alegria. Ali no meio daquele aglomerado de maconheiros fazendo apologia ao uso da erva com camisetas, bonés e um tal de Bob Marley estampava algumas camisetas. Tremi. Sofro de atropofobia, agorafobia e todas as fobias relacionadas a conviver com idiotas. Mas este parágrafo é para falar de encontrar amigos... então vamos ao assunto. Revi amigos que fazia muito tempo que não os encontravam. Amigos se encontrando, não é preciso explicar. Amigos se entendem sem precisar falar. Um dos que encontrei foi o Capitão Nunes. Uma aquisição recente como amigo. Nem sei por que o considero amigo. Temos visão bem diferente. A formação do Capitão Nunes é mais sisuda, fruto de sua formação militar. A minha é mais arruaceira, marcas de minha militância em movimentos sociais e de esquerda. Enfim conversamos pouco porque eu estava afim de tomar cachaça para suportar a convivência com tanta gente e marcamos uma conversa para terça-feira. Encontrei também o David Lima. Já somos amigos há muitos anos. Em razão de sofrermos, ambos, de uma doença incurável: uma relação de ódio e fascínio pela filosofia, embora eu seja muito melhor que ele no tema. Essa doença dá grande coceira nas idéias, coceira que chega sangrar. Eu, de tradição protestante, ele de tradição católica. Mas sempre andamos juntos alegremente, tomando vinho com palavras. Filosofamos duetos, juntos e diferentes, sem confusão, sem separação, sempre em harmonia, de acordo com as definições socráticas. Nem debato com ele sobre religião. Religiões são gaiolas vazias. Não. Não estão vazias. Dentro delas há um pássaro empalhado. Mas Deus é um pássaro em vôo... Há um ditado judeu que diz: “Os homens pensam. Deus ri.” Ele se ri das bobagens que pensamos sobre ele – ou ela, não estou bem certo. Será que Deus é uma mulher?...

Revi o Davidson Caldas, eu já era amigo dele antes de conhecê-lo pessoalmente. Eu conheci seu trabalho como ator e diretor teatral, faz muitos anos. Conheci e percebi que, sem nunca nos termos vistos, éramos amigos. Isso é a cumplicidade que a arte faz aos amantes dela. Por isso só consigo me aproximar de pessoas cultas e artistas.

Depois do show do “Cidade Negra” Já ébrio, estive na praça para conversar com quem quisesse. Havia muita gente. Para começar, uma surpresa que não estava no programa. Tinha um ladrão chamado George Valentim que estava bem próximo a mim. Então sai de perto. Vai que a polícia pega esse ladrão e me leva junto? Melhor num arriscar ta perto.

Um jovem muito belo me abordou e me chamou de herege. Era um jovem beato da igreja católica. Ex-amante de um ex-padre da cidade. Então resolvi doutriná-lo e explicar a ele o que era heresia.

O que é um herege? Perguntei-lhe. Em seguida dei a resposta: É uma pessoa que anda na direção contrária. É alguém que diz o que foi proibido dizer. O pecado dos hereges não é moral. Ninguém é herege por ser um assassino ou fornicador. Esses são pecados de que se pode arrepender-se, e que são resolvidos no confessionário. O pecado dos hereges, ao contrário, não é pecado de ação. É pecado de pensamento. E não há formas de se arrepender daquilo que se pensa. Ele pensa aquilo que é proibido pensar. Só há um jeito de curar um herege: queimando-o na fogueira. Pois eu já sou todo dia queimado da fogueira. Mas não na fogueira da inquisição de sua igreja, mas na fogueira dos corruptos donos do poder.Pois eu, já há algum tempo, tenho andado dizendo coisas proibidas. Por elas fui levado ao pastor de minha antiga igreja e interrogado fui disciplinado, ou seja, fui expulso da igreja Assembléia de Deus. “Tenho a honra de me assentar na mesma cadeira em que se assentou Galileu...” Galileu também foi herege por afirmar uma coisa proibida, que a terra não era o centro do universo. Ah! Como as religiões afirmam coisas confusas! Felizmente se arrependem delas, passados quinhentos anos... Outro herege famoso foi Jesus Cristo que andava pela Palestina negando aquilo que sempre tinha sido dito: “Ouvistes o que foi dito aos antigos, eu, porém, vos digo... A minha heresia tem tudo a ver com a heresia de Jesus Cristo. Para os religiosos, o pensamento do outro só pode ser mentira. É o outro que tem de ouvi-la. Ela é “mater et magistra” – mãe e mestra. Para mim ao contrário, a igreja é formada por todos aqueles que sonham o mesmo sonho, o sonho que está contido na poesia do Pai Nosso: um mundo de fraternidade, sem misérias, sem vinganças, sem violência.

Há uma estranha coincidência: o Rio de Janeiro é uma das cidades mais religiosas do Brasil e é a cidade mais violenta do Brasil. Qual é a relação que existe entre religião e violência? É bom lembrar que, na história do Ocidente, as religiões sempre estiveram ligadas à violência. Os maiores horrores já foram perpetrados por causa de dogmas religiosos. Para justificar a guerra contra o Iraque, o presidente Bush declarou que conversava com Cristo todas as manhãs. A loucura tem fortes relações com a religião institucionalizada. Os loucos pensam que suas idéias são as idéias de Deus. Pensa-se que a violência criminal vai se resolver com a violência policial. Mas onde se encontram as raízes da violência? Elas não se encontram dentro de nós mesmos? A violência só vai ser resolvida quando os homens aprenderem a ser mansos. Mas isso exige uma transformação espiritual. Era assim que pensavam Jesus Cristo, São Francisco de Assis e Gandhi...

Foi uma conversa gostosa, honesta, por vezes com um pouco de pimenta, que era logo eliminada com o humor.

O que é necessário compreender é que ninguém tem a verdade. Alias a verdade não é, ela dever ser. Nós só especulamos. No momento em que os indivíduos compreenderem que suas verdades não passam de especulações eles ficam mais tolerantes. E é gostoso conversar mansamente, cada um ouvindo honestamente o que os outros têm a dizer. Espero que tenha convencido o jovem porque ele é muito fofo.

Encontrei também um anônimo que me fez muitos elogios. Quem me conhece de perto Sabe que odeio elogios. Mas gostei do que ele falou. Ele me disse: “que aprovava minhas atitudes em relação a corrupção em Maranguape”. Sou um jovem socialista revolucionário e luto por mim. Fico feliz em saber que tem gente em Maranguape que concorda comigo, mas se ninguém concordasse, se eu fosse o único revolucionário do planeta, mesmo assim eu continuaria a ser. Findo a noite de encontros e reencontros acordei no domingo com muita dor de cabeça.

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