Fernando Gabeira no verão de 1980 usa uma tanga de crochê e sai as ruas do do Rio Para protestar contra a ditadura |
Bachelard observou que “a lembrança pura não tem data. Tem uma estação. É a estação que constitui a marca fundamental das lembranças. Que sol ou que lua, que vento ou que frio fazia nesse dia memorável?”
Compreendi as palavras de Bachelard ao me lembrar daquele dia memorável, que não pode ser esquecido. Era o fim de tarde,inicio da noite, quando a luz do dia que se vai se mistura com o escuro da noite que chega e tudo fica indefinido. A indefinição ficava mais indefinida ainda pela multidão que começava a se unir na rua. Foi então que aconteceu: um barulho surdo, metálico, sem melodia e sem ritmo oriundo dos paredões de som. Era um barulho que não combinava com o momento... Fiquei assustado porque não tinha na minha memória registro de qualquer barulho urbano que se assemelhasse àquele que enchia a tarde-noite de Maranguape. Eu estava no meio daquilo. Tomei coragem de me expor no meio dos burros. Queria entender o que estava acontecendo.
Quando, no meio, do turbilhão da rua, os rostos sorridentes dos motoristas de carros de som me fizeram lembrar. Os motoristas cansados, ao fim do dia, usam as buzinas para exprimir sua irritação. E eles estavam buzinando sem parar, mas sem que houvesse nenhuma razão de tráfego para tal. Suas buzinas não eram irritadas. Buzinavam e sorriam. Parecia que estavam felizes.
Aí me lembrei e entendi. Olhei para cima da ladeira da Rua Major Agostinho e vi de onde vinha o barulho desritimado: as janelas e portas das casas estavam cheias de pessoas que batiam palmas e sorriam. O barulho era ensurdecedor e lindo, musicalmente... Aquele barulho era o canto de um povo. O calor fazia-me suar, mas as pessoas que dançavam pelas ruas não demonstravam contrariedade. Elas sorriam com o suor a lhes escorrer pelo rosto. Era a carreata da vitoria de George Valentim que acabara de vencer as eleições municipais e era o prefeito eleito de Maranguape em 2008 : uma cidade sem armas que buzinava e cantava para comemorar a derrota de dois políticos ordinários da historia politica de nossa cidade.
Chorei e me disse: “É muito bonito! Uma história para ser contada e repetida! As crianças precisam saber...” E foi ali que se formou na minha imaginação utópica de que o governo do PCdoB seria um governo revolucionario e socialista.
No conto que eu escrevi intitulado “A Fábula do reino dos idiotas”, dirigido às crianças, publicado no inicio de 2009, eu sugeri que, olhando para nossos sólidos representantes (Prefeito e seu secretariado e os Vereadores), um escorando o outro, fica claro que todos eles não está disposta a trocar seu menu de privilégios por uma modesta dieta de direitos universais... Numa alusão ao filme do Hitchcock, eu poderia ter dito que era preciso chamar os pássaros... Eles só sairão do castelo de impunidade onde se encontram se os pássaros os obrigarem.
Pássaros fomos nós, naquela noite de comeração pela vitória do PCdoB contra os poíticos ordinários. Pássaros poderemos ser nós, agora a denunciar e derrotar esses canalhas que hoje estão na prefeitura.
Recebi outro dia, a convocação dos pássaros; um manifesto da AACISTE e do Vereador Átila Câmara me convocado para ajudar a construir o futuro de Maranguape. Pura balela. Não sei em quem quero votar ainda, mas sei muito bem em quem não quero votar e Átila Câmara não é um político dos meus prediletos. Só votaria nele em uma eventual tragédia de ter que votar no menos ruim. Depois, em outro artigo, esclareço o porque de minha rejeição ao jovem homeopático coronel.
“Esta é a hora: vamos paralisar Maranguape com novas ideias, vamos promover um panelaço! Exija que as redes de televisão, rádios, jornais, revistas e o político de sua confiança divulguem esse movimento. Mobilize sua escola, seu sindicato, sua igreja, seus amigos. Estenda na janela uma bandeira, uma toalha, um pano qualquer! Uma faixa! Bata panelas! Toque cornetas! Se você estiver no carro, buzine! Vamos fazer a cidade tremer por um minuto!” de indignação contra a corrpução que hoje domina nossa cidade. Se fizermos um movimento zuadendo as hienas e os gambás fugirão dos pássaros!
Eu vou buzinar, vou tocar sino, vou bater tampa de panela, estender bandeira, cofeccionar faixa, colar cartaz mandar e-mail, panfletar, tocar a Nona Sinfonia... vou fazer arruaça, vou ser preso por desacato, mas ninguém poderá dizer que eu morri sem espernear...
Entre o conformismo de uma cidade sem ânimo de lutar por seus direitos e seu futuro, prefiro vestir a tanga de Gabeira e sair as ruas para polemizar com os hipócritas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário